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Ave mais antiga tinha patas de dinossauro

Editoria: Vininha F. Carvalho 22/12/2005

Mais respeito com o peru neste Natal. Um estudo publicado hoje coloca de uma vez por todas o penoso numa categoria mais solene: a dos raptores, dinossauros cujo representante mais famoso é o Velociraptor. Ou vice-versa.

A conclusão partiu de um detalhe aparentemente irrelevante, descoberto por pesquisadores da Alemanha e dos EUA: o Archaeopteryx, fóssil de 150 milhões de anos considerado a mais antiga das aves, tem pés de dino.

Essa peculiaridade anatômica, somada a outros detalhes do crânio do animal, "borra a distinção" entre aves e raptores (também conhecidos como deinonicossauros), nas palavras do paleontólogo Gerald Mayr, autor principal do estudo.

Até agora, os cientistas achavam que o Archaeopteryx tivesse um hálux, aquele dedo virado para trás que perus, pombos e gaviões usam para se empoleirar.

Analisando um fóssil novo dessa "ave" pré-histórica, no entanto, Mayr e seus colegas descobriram que não só o hálux nela não é totalmente formado como o segundo dedo do animal possui uma garra retrátil, maior que as outras - exatamente como a do Velociraptor e seus parentes.

"Isso simplesmente não estava claramente visível nos outros espécimes, que estão menos preservados", disse Mayr à Folha.

O estudo do alemão, publicado na revista científica "Science", de quebra dá a primeira descrição do décimo espécime de Archaeopteryx encontrado no planeta.


Meio a meio

Desde que foi descoberto, em meados do século 19 em Solnhofen, sul da Alemanha, o Archaeopteryx é um dos fósseis mais estudados do planeta. Já em 1868, ninguém menos que Thomas H. Huxley, cão-de-guarda de Charles Darwin, escrevia o primeiro artigo científico detalhando a anatomia do animal e afirmando que o fóssil sugeria um ser intermediário entre aves e répteis.

Estudos posteriores só vêm confirmando a hipótese de Huxley e sugestões mais recentes de outros cientistas de que as aves descendem de um grupo específico de dinossauros, os deinonicossauros "garras terríveis", em grego latinizado. Alguns pesquisadores, no entanto, não engolem essa relação de parentesco.

A descoberta da "garra terrível" do Archaeopteryx sugere que, exista um contínuo evolutivo entre aves e raptores, o que elimina o aparente absurdo de chamar uma galinha de "dinossauro" e um velociraptor de "passarinho". "Você amplia o conceito de ave", diz o paleontólogo Max Langer, da USP de Ribeirão Preto.

Langer diz que o detalhe mais interessante do novo trabalho é a proposta de remontagem da árvore genealógica das aves. Até agora, os cientistas costumam definir como "ave" todos os animais compreendidos entre o Archaeopteryx e o pardal moderno.

Mayr e seus colegas propõem dividir o grupo Aves em dois: de um lado, animais mais primitivos, como o Archaeopteryx. Do outro, o Velociraptor e as aves atuais. "Se você define ave como incluindo o Archaeopteryx, você tem de incluir na categoria também o Velociraptor", diz Langer.

Fonte: Folha de São Paulo

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